Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a
flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia
preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do
acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria
que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra. Você é a saudade
que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que
você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora,
você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de
livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você
é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que
permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da
garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o
beijo, você é o que você desnuda. Você é a raiva de não ter alcançado, a
impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os
outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá,
você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com
o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você
queima. Você é aquilo que reivindica, o que consegue gerar através da
sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se
obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha,
busca, você é o que você pleiteia. Você não é só o que come e o que
veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê.
Você é o que ninguém vê.
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quarta-feira, 21 de agosto de 2013
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