E se tornou tão fácil para mim fingir. Fingir que estou bem, fingir um sorriso, fingir que não incomoda como ninguém percebe que estou fingindo. Se tornou um hábito, algo diário e quase natural agora. E é tão… horrível isso, tão doentio e destrutivo e mesmo tendo total e completa noção disso, dia após dia nada muda. Eu ainda vou fingir um sorriso, eu ainda vou fingir estar bem. E por quê eu me pergunto? Para poupar preocupação, aborrecimento, de pessoas que nem realmente me enxergam pra começar? Sério, o que há de errado comigo? O que há de errado com eles, para não perceberem o quão ferrada minha cabeça está? O quanto eu quero pedir ajuda, mas não tenho nenhuma voz pra isso? É tudo tão ferrado, tão fudido e tão confuso! Me perguntei outro dia como as coisas chegaram no ponto em que estão e aí descobri que talvez sempre tenha sido assim. Eu, pelo menos, não consigo me lembrar de uma época em que não tenha sido; e se essa época existiu não deve ter sido nada surpreende e animador, afinal, eu já me esqueci dela não é? E então eu continuo fingindo; apesar de toda raiva, de toda confusão, apesar de todo nojo que eu tenho guardado aqui dentro, nojo de mim e de todos os outros. Eu continuo fingindo. Fingindo um sorriso. Fingindo alegria. Fingindo que está tudo bem. É um ciclo vicioso, algo que nunca acaba, e é uma merda. Eu finjo e finjo, esperando um dia poder parar de fingir, ter forças para isso, mas sempre com a maldita dúvida, a maldita insegurança, de que se algum dia serei capaz disso ou não. Eu finjo, por que fingir é mais fácil. Mais fácil do que ter coragem e mostrar para todos como eu realmente me sinto, mais fácil por que aí não terei que enfrentar olhos que condenam e nem palavras que ferem mais do que imaginam. Fingir é fácil. Mas, então, fingir também foi a escolha mais dolorosa que me obriguei a tomar.
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